27 de dezembro de 2008


Ele veio para o que era seu, e os seus não o reconheceram.
Mas aos que o receberam ele deu o poder
de se tornarem filhos de Deus.
Jo 1,11-12


Deus deseja visitar-nos. Deseja estar conosco.
Habitar em nosso ser.
Abrigar-se em nossas entranhas.
Fixar sua tenda em nossa vida.

Quer que nossa alma seja seu castelo
e o nosso coração seu refúgio.

Mas necessita que o acolhamos, que estejamos dispostos a recebê-lo
Acolher desacomoda, queremos ser os donos e senhores de nossa vida,
A grande tentação da humanidade é não acolher a Deus.
Como somos seres impetuosos preferimos tomar a iniciativa e fazer as coisas à nossa maneira, seguindo nossos critérios.
Acreditamos que assim somos mais adultos.

Adão não acolheu a dádiva do Paraíso e optou por tomar o fruto da árvore da ciência.
Israel não acolheu a Aliança que Deus lhe propunha e optou por pactuar com os ídolos estrangeiros, cuja maneira de pensar era mais previsível.
Judas não acolheu os ensinamentos, os milagres e o carinho de Cristo, porque o desconcertavam e optou por aceitar trinta moedas que lhe permitiram intervir na história.

Rebelamo-nos contra Deus que não entendemos e a quem não podemos controlar.
Queremos experimentá-lo, sentir sua presença, submetê-lo ao exame de nossos sentidos, mas ele, mais uma vez foge livre e nos acompanha sem ser acompanhado.

Deus não se deixa apanhar por ninguém.
È demasiado grande e nossas redes demasiado pequenas.
Queremos um Deus pequeno e manipulável que se adapte a nossos interesses.
Em troca
nosso grande privilegio é poder acolher um Deus infinito e permitir que habite em nosso pobre coração.
Como a terra seca que recebe e se encharca com a água da chuva;
Como o sarmento que se nutre da seiva da videira;
como a criança de peito amamentada por sua mãe;
como cálice que acolhe o vinho do sacrifício;
como o seio virginal de Maria fecundado por obra do altíssimo;
como Maria de Betânia, que aos pés de Jesus escuta sua palavra;
como o sepulcro símbolo das entranhas da Criação, que hospeda o corpo de Cristo e é testemunha de sua ressurreição...:
Assim podemos acolher Deus
em nossa vida e converter-nos em seus filhos. Isso é acolher a Palavra de Deus.
Isso é viver da misericórdia.

Natal de uma anacoreta - assim refleti no Natal de 2008

5 de dezembro de 2008


Templo do coração



O santuário ou templo é um local de reunião e adoração, de celebração dos ritos iniciáticos e de alimentação da vida de fé onde os discípulos cristãos, isto é “todos os batizados” prestam homenagem à Deus. Homenagem de adoração e reverência; de perdão e misericórdia; de partilha e solidariedade, de alegria e de aceitação, de arrependimento e de propósitos; de celebração da vida e da ressurreição da vida.

A origem e o desenvolvimento dos templos: capelas, santuários, catedrais, basílicas, ermidas, grutas, retiros da terra e a atitude do homem com relação a esses locais sagrados nos mostram o processo evolutivo que ocorreu no próprio ser humano.

Todas as vezes que os seres humanos acreditaram que Deus se havia manifestado, esse local se tornava sagrado, ou seja, templo.

Em muitas ocasiões foram erguidas construções em áreas onde se acreditava ter ocorrido uma teofania (manifestação visível de Deus), com o objetivo de comemorar e perpetuar o evento.

O local então como no tempo de Jesus (cf. Jo 18,20)

se tornava um ponto de reuniões periódicas para os fiéis cristãos crentes, um lugar marcado pela esperança, pois o povo sempre esperava novos sinais de manifestação divina. (cf.Jo 5,14-15)

O templo se tornou um local de reunião de seres humanos adoradores de Deus. Para nós cristãos adoradores de um Deus vivo único, Uno e Trino.

À medida que as civilizações foram ficando mais complexas, os templos se tornaram locais de instrução. Passaram a ter funções: “local de reunião dos fiéis”; “local para instrução formal dos fiéis”; “local para a iniciação ritualista do cristão no discipulato de Cristo.

O templo material continua a ser importante, já que nesse local, são celebrados os principais mistérios da fé cristã.

  • Desde o advento até a encarnação do Verbo.
  • o Getsêmani, passando pelo holocausto do Calvário até à ressurreição da Cristo.
  • Na sagrada Eucaristia, o fiel cristão concelebra e comunga da presença viva e real de Cristo no meio de nós, tal como se presente estivesse naquela sexta feira no monte Calvário.

Nos primeiros séculos da Era Cristã houve uma mudança na interpretação da importância do templo físico no esquema do progresso humano em direção ao Primeiro Princípio.

  • Santo Atanásio, disse que o Sanctum Sanctorum é o próprio céu, e não "os templos ou igrejas erguidos pelo homem".
  • São Gregório também espiritualizou os atributos do templo físico dizendo que a entrada e saída de Moisés do Sanctum Sanctorum significava "0 espírito que entra e sai de um estado de contemplação", e que o ouro e as vestimentas do sumo sacerdote eram apenas um brilho de inteligência.

O ponto, focal não é mais o templo e sim o homem. Uma vez que introverta a consciência, isto é: que adentre para dentro de si mesmo, o ser humano percebe o lugar que ocupa no universo.
O coração do homem lhe indicou seu lugar na Criação. Quando ele se volta para o interior, não pode deixar de chegar à conclusão de que emanou de Deus: (cf At.17,26-29).

Depois de Deus, nada pode existir de mais sagrado e grandioso que a alma do seres humanos. Por isto, cabe ao homem aprofundar-se mais em si mesmo para encontrar novos sinais". Prescrutar o insondável.

O homem, na qualidade de herdeiro de Deus, tem o direito de tornar-se uno com a fonte de onde proveio.

Fomos moldados pela mente do grande Pai: Deus auto-existente.

  • Ele nos criou em seu coração (isto é, mente);
  • Ele nos exalou (nossa vida) de suas narinas.
  • Ele nos fez em sua glória.

O coração é o órgão central, a fonte de todo poder na vida e no pós-vida.

O Sanctum Sanctorum se encontra no coração, um local simbólico considerado a fonte da vida, o centro do ser, a soleira do amor. E o local mais sagrado, onde podemos nos recolher para restabelecer o contato com a mais elevada esfera do universo criado, com nosso Deus Criador.

Ao invés de confiar nos fatores exteriores de uma igreja material “construída de pedras”, o ser humano deve contar consigo mesmo.

  • “igreja viva construída por Cristo. Incorporados à Igreja pela consagração batismal”,

  • Cada discípulo cristão recebeu o dom e agora por força do dom recebido “tem uma vocação” “que vivenciará em missão” - como comunidade igreja, na Igreja de Cristo (cf.Mt 16,18-20):

  • Mt 16,18-20 - 18 Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la.

Jesus disse “edificarei a minha igreja” significa que Cristo continua edificando a sua Igreja. Cristo não construiu nem um “prédio de pedra”, mas continua alicerçando pedras angulares para o “Reino de Deus”, no “Reino de Deus”.

Voltar-se para o templo interior é um caminho difícil, talvez o mais difícil de todos, para nos levar a Deus, é o caminho mais direto, sem subterfúgios, sem intermediários, sem meios que possam atrair nossa atenção para atalhos que poderíamos tomar na busca da reintegração do ser humano no regaço de Deus.

Quando o ser adentra cada vez mais nas profundezas de seu ser descobrirá que o coração humano discerne as intenções, as faculdades, as operações e o movimento de seu Deus. (cf.Gl 2, 20-21):

Assim como na antiguidade, para entrar no templo a pessoa tinha de fazer as abluções preliminares, para entrarmos no templo do coração precisamos ser purificados pela Caridade.

A caridade nos conduz à verdadeira iniciação no templo interno que, como os templos antigos, tem três funções:

  • primeira em nosso templo interno pessoal estabelecemos contato com outros "irmãos e irmãs de fé";
  • segunda, nesse templo podemos receber instruções preciosas;

  • terceira, no templo do coração nosso objetivo é o de estabelecer uma união com o verdadeiro Deus Uno e Trino.

valor de uma iniciação interior está no fato de que não podemos esconder nossos verdadeiros sentimentos de nós mesmos e muito menos de Deus.

  • É uma experiência que toca todo o ser, todos se beneficiam do trabalho pessoal nesse templo interno,
  • porque quando o ser humano decide trabalhar a si mesmo, está realmente trabalhando pelos outros,
  • pois faz um esforço e mostra por este ato que, se tiver pureza, poderá ver a imagem e semelhança de Deus,
  • e é de conhecimento dessa imagem e semelhança que os homens necessitam tanto.

Que encontramos quando trabalhamos interiormente?

Descobrimos que o mais valioso aspecto do homem não é material mas espiritual, pois o espiritual o liga a Deus.

  • Compreendemos então que o conhecimento que recebemos e arquivamos não tem valor a menos que o ponhamos em prática.
  • Aprendemos que o interesse pelos outros deve preceder nossos interesses pessoais.
  • Aprendemos que quando servimos a outros, servimos a Deus, e assim nos enriquecemos espiritualmente.
  • Aprendemos que o "caminho do meio" é a resposta para muitos de nossos problemas mundanos;
  • finalmente, aprendemos que a humildade é um pré-requisito essencial para nosso desenvolvimento espiritual.

Revestidos da face da humildade somos todos iguais - pois somos todos irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus.

Através de próprio trabalho pessoal o discípulo cristão percebe sua semelhança divina, sua posição original no esquema das coisas relativas ao Primeiro Princípio e por essa percepção ele percorre a caminhada na senda. As manifestações exteriores são pontos de partida que despertam o espírito intuitivo e nos lembram nossa herança divina.

A Igreja de Cristo mostra o caminho àqueles que o estão buscando. Tenta dissipar a dependência da matéria. E entra no “templo de pedra” durante o progresso do processo evolutivo e espiritual no caminho da senda. O objetivo deste templo é nos ajudar a elevara um nível superior onde o único templo, é o coração.

O coração humano é um templo construído por vontade divina.