Sacramentum Caritatis nº 64 de Bento XVI
64. A grande tradição litúrgica da Igreja ensina-nos que é necessário, para uma frutuosa participação, esforçar-se por corresponder pessoalmente ao mistério que é celebrado, através do oferecimento a Deus da própria vida em união com o sacrifício de Cristo pela salvação do mundo inteiro.
Vista a importância essencial desta participação pessoal e consciente, quais poderiam ser os instrumentos de formação mais adequados?
- É preciso promover uma educação da fé que predisponha os fiéis cristãos a viverem pessoalmente o que se celebra.
- Para isso, a estrada duma catequese de caráter mistagógico, que leve os fiéis cristãos a penetrarem cada vez mais nos mistérios que são celebrados.
Na tradição mais antiga da Igreja, o caminho formativo do cristão — embora sem descurar a inteligência sistemática dos conteúdos da fé — assumia sempre um caráter de experiência, em que era determinante o encontro vivo e persuasivo com Cristo anunciado por autênticas testemunhas.
Quem introduz nos mistérios é primariamente a testemunha; depois, este encontro aprofunda-se, sem dúvida, na catequese e encontra a sua fonte e ápice na celebração da Eucaristia. Desta estrutura fundamental da experiência cristã parte a exigência de um itinerário mistagógico, no qual se hão-de ter sempre presente três elementos:
a) Trata-se, primeiramente, da interpretação dos ritos à luz dos acontecimentos salvíficos, em conformidade com a tradição viva da Igreja; de fato, a celebração da Eucaristia, na sua riqueza infinita, possui contínuas referências à história da salvação.
- Em Cristo crucificado e ressuscitado, podemos celebrar verdadeiramente o centro recapitulador de toda a realidade (Ef 1,10); desde o seu início, a comunidade cristã leu os acontecimentos da vida de Jesus, e particularmente o mistério pascal, em relação com todo o percurso do Antigo Testamento.
b) A evangelização mistagógica há-de preocupar-se por introduzir no sentido dos sinais contidos nos ritos; esta tarefa é particularmente urgente numa época acentuadamente tecnológica como a atual, que corre o risco de perder a capacidade de perceber os sinais e os símbolos.
- Mais do que informar, a evangelização mistagógica deverá despertar e educar a sensibilidade dos fiéis para a linguagem dos sinais e dos gestos que, unidos à palavra, constituem o rito.
c) A evangelização mistagógica deve preocupar-se por mostrar o significado dos ritos para a vida cristã em todas as suas dimensões:
- trabalho e compromisso,
- pensamentos e afectos,
- atividade e repouso.
Faz parte do itinerário mistagógico pôr em evidência a ligação dos mistérios celebrados no rito com a responsabilidade missionária dos fiéis cristãos;
- neste sentido, o fruto maduro da mistagogia é a consciência de que a própria vida vai sendo progressivamente transformada pelos sagrados mistérios celebrados.
- Aliás, a finalidade de toda a educação cristã é formar o fiel enquanto « homem novo » para uma fé adulta, que o torne capaz de testemunhar no próprio ambiente a esperança cristã que o anima.
Condição necessária para se realizar, no âmbito da comunidade cristã, esta tarefa educativa é dispor de formadores adequadamente preparados;
- mas todo o povo de Deus deve, sem dúvida, sentir-se comprometido nesta formação.
- Cada comunidade cristã é chamada a ser lugar de introdução pedagógica aos mistérios que se celebram na fé;
- O Espírito Santo não poupa a efusão dos seus dons para sustentar a missão apostólica da Igreja, a quem compete difundir a fé e educá-la até à sua maturidade.