«Silêncio e palavra: caminho de vida»
Mensagem do Papa Bento XVI para o 46º dia
das Comunicações Xociais
A
relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem
equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e
uma união profunda entre as pessoas.
Quando
palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque
provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de
indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha
valor e significado.
O
silêncio é parte integrante da
comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo.
{ No silêncio,
escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos,
{ nasce e
aprofunda-se o pensamento,
{ compreendemos com
maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro,
{ discernimos como nos
exprimir.
Calando, permite-se à
outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos
presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e idéias.
{ Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e
torna-se possível uma relação humana mais plena.
É
no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da
comunicação entre aqueles que se amam:
{ o gesto, a
expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa.
No
silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram,
precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão.
{ Por isso, do
silêncio, deriva uma comunicação exigente, que faz apelo à sensibilidade e
àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos
laços.
Quando
as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para
discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório.
Uma
reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre
acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a
avaliar e analisar as mensagens;
{ e isto faz com
que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um
conhecimento comum autêntico.
{ Por isso é
necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz
de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.
Grande
parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de
respostas.
Os
motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação
para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas.
Nos
nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das
respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por
respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente.
O
silêncio é precioso para favorecer o
necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que
recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente
importantes.
{ Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da
comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da
existência humana:
{ Quem sou eu? Que
posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar?
É
importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a
possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação,
mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais
eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer
até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que
Deus inscreveu no coração do homem.
{ No fundo, este
fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à
procura de verdades, pequenas ou grandes, que dêem sentido e esperança à
existência.
O
homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de cépticas
opiniões e experiências de vida:
{ todos somos
perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo
neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a
partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus
ideais»
Devemos
olhar com interesse para as várias formas de aplicações e redes sociais que
possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca
verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração,
meditação ou partilha da Palavra de Deus.
Na
sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo
bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o
cultivo da sua própria interioridade.
Não
há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o
silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se
a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas.
O
Deus da revelação bíblica fala também sem palavras:
{ «Como mostra a
cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio.
{ O silêncio de
Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no
caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada.
O
silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos
obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio».
{ No silêncio da
Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo.
{ Depois da morte
de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei
dorme, e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos»
– ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.
Se
Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a
possibilidade de falar com Deus e de Deus.
{ «Temos
necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no
silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra
redentora»
Quando
falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste
modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa.
Desta
contemplação
nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade
imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em
comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3).
{ A contemplação silenciosa faz-nos
mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para
sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de
vida, o seu dom de amor total que salva.
{ Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda
mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se
aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a
história da humanidade.
Como
recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de
«ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras,
realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina
e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez,
declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» .
{ E tal desígnio de
salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a
Revelação.
{ Foi Ele que nos
deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição,
nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos
de Deus.
A
questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de
pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo.
{ É deste Mistério
que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a
tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que
promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.
Palavra e
silêncio.
Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além
de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da
evangelização:
silêncio
e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da
Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo.
A
Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» confio toda a obra de
evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.